O que falar sobre amigos? Há os que cresceram com você e que te conhecem como a palma das mãos, há os que chegaram na adolescência e sonharam a vida adulta junto contigo. Há os que chegaram na maturidade, quando muitos já estão mais escaldados e nem tão abertos a deixarem-se conhecer, mas a amizade mesmo assim se fez nascer. Tem amizades construídas pouco a pouco, um tijolinho por vez, ao passo que outras nascem quase instantaneamente e dando impressão que sempre existiram!
Há amigos que vemos sempre, amigos que foram para longe e só abraçamos fisicamente a cada par de anos, e quando isso acontece é como se o tempo e a distância nunca tivessem existido. Há amigos que secam as nossas lágrimas e riem nossos risos, há amigos para os assuntos mais filosóficos e aqueles que sabemos que nos farão rir, não importa nosso estado de ânimo… Há irmãos amigos e há amigos que nos conhecem e estão presentes mais que nossos irmãos…
A amizade, quando verdadeira, é fonte de motivação, porto seguro, chamada ao caminho do equilíbrio, pausa na seriedade excessiva; são as bobagens sem sentido ditas na brincadeira que fazem a barriga doer de tanto rir; confidências trocadas em momentos importantes, ombros fortes para nosso amparo em dias de fragilidade da alma. É como a canção de Milton Nascimento: pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração.
E, tendo a busca de equilíbrio da Roda da Vida como objetivo surgem algumas perguntas:
- Como está a qualidade das minhas amizades hoje? Está exatamente como descrita nos parágrafos acima ou minhas amizades são uma pálida versão disso? Se o cenário é um céu de brigadeiro, perceba o que faz com que tudo caminhe tão bem assim, para manter a força desse setor ativa na sua vida, pois é algo que tem grande poder de sustentação quando temos uma meta longa, exaustiva ou estamos num período de vida mais conturbado.
Caso o panorama não esteja muito bom, pare, respire fundo e pergunte-se o que aconteceu. Há momentos em que começamos a ter experiências e amadurecimentos diferentes dos nossos amigos e tudo acontece muito rápido conosco e com eles, e é como se não fizéssemos atualizações do sistema chamado amizade, até que em uma reunião percebemos que falta liga. Nesse instante sentimos que estamos um pouco perdidos, um pouco órfãos… Mas isso não é necessariamente o fim de tudo – temos tantas mídias a nossa disposição, podemos usar essas ferramentas para atualizar esse sistema, para mostrar o que temos feito, o que descobrimos, o que nos interessa a ponto de fazer nosso olho brilhar, e saber de tudo isso sobre eles também.
Porém se as experiências a que fomos submetidos pela vida fez com que passássemos a ver o mundo de modos muito distintos, a ter Valores díspares, aí é natural haver uma ruptura ou um afrouxamento dessa amizade. Se esse é o caso, renda homenagem no seu coração a tudo de bom que viveu ao lado desses amigos, e vá em busca de novos amigos, mais parecidos com o seus valores e necessidades atuais. (Muitas vezes acontece algo assim quando fazemos uma escolha de vida distinta daquele grupo – exemplo: virar vegetariano – e o grupo diz aceitar, mas de fato não aceita nossa mudança, nossa decisão e aí força a barra ou faz brincadeiras que não são legais.) Porque a partir do momento que alguém não consegue perceber um valor ou uma necessidade minha e respeitar, a amizade já deixou de existir e virou outra coisa… Do mesmo modo que uma amizade que só chega para tentar tirar algum tipo de vantagem ou apontar sempre meus pontos fracos: se emagreci, emagreci muito ou se veio um quilo a mais na pesagem, estou gorda – deixou de ser carinho, deixou de ser afeto real, então deixou de ser amizade. E é hora de entender se quero permanecer ali junto daquilo ou prefiro outras paragens e pessoas mais afins comigo.
- Como sou como amigo? Sei ser presente, estável quando meus amigos me buscam? Sei, mesmo em meio aos problemas cotidianos, ter tempo para vibrar pela conquista de quem digo querer bem? Tenho tempo de consolar meu amigo nas dores dele – ou sou do tipo que os meus problemas levam 50 minutos para serem contados (e muitas vezes recontados num looping nada saudável) e na hora de ouvir o problema do meu amigo, mal deixo que ele chegue na segunda frase, já sintetizo (o que acho que seja o problema) e saco uma frase do tipo psicologia de bolso e lanço pra ele? Sou do tipo que entende a escolha do amigo, mesmo sabendo que há opções bem melhores, mas ele ainda não quer ou não consegue fazer essa escolha – e em virtude disso, dou espaço pra ele, muitas vezes até me colocando um pouco mais distante para não criar problemas (como quando um amigo (a) se envolveu com alguém que não é bacana, mas ainda não tá pronto (a) pra perceber ou para sair da relação) ou falo tudo sem pensar no que a pessoa suporta ouvir na circunstância que está?
E se sou eu que estou no passo errado, na escolha perigosa, sei perceber o conselho carinhoso, o afastamento respeitoso ou vou me virar contra meu amigo?
Sei entender o momento atual do meu amigo e ver que o tempo que ele me dá, embora apertado, é de qualidade, é recheado de atenção genuína? Sei estar inteira com meu amigo ou estou sempre a buscar quem não está ali fisicamente?
Sou do tipo que me permito ser explorada no meu tão precioso tempo, ouvindo as mesmas lamúrias, horas a fio, meses e meses após ter percebido que ele/ela só querem falar até cansar, despejar o lixo emocional, como se eu fosse uma latrina e depois seguir fazendo sempre a mesma coisa e reclamando que o bolo de chocolate que fez não tem gosto de laranja? Ou será que sou eu a explorar o tempo e o emocional dos meus amigos com as mesmas histórias que só cabe a mim mudar? Aceito tudo mesmo me prejudicando, para não chatear meu amigo ou sou do tipo que os amigos é que deem o jeito deles, porque eu não saio da minha zona de acomodação?
Com essas perguntas respondidas, do ponto mais sincero da nossa alma, teremos um mapa para entender e então manter ou criar um cenário bem mais frutífero nesse setor da Roda da Vida, que fará com que nosso caminho seja ainda mais feliz e completo. Porque na hora que entendo o processo, percebo se cabe a mim peneirar algumas amizades ou me burilar, para realmente merecer o título de AMIGO!