Nessas últimas semanas a tônica da maioria dos atendimentos que tenho feito é a CULPA. Existem vários tipos de culpa, desde a culpa que trazemos da infância e que nada tem de real, mas que funciona como se fosse; aquelas que podem ser corrigidas e, culpas que doem, remoem e que não tem mais como serem corrigidas “in loco”.
O problema é que a culpa soterra a sensação de merecimento, o que muitas vezes cria situações de embaraço ou até de auto sabotagem dos sonhos que viemos trabalhando há tempos.
As culpas que trazemos da infância passam geralmente por situações onde a criança pensou ou falou algo e logo depois aconteceu – exemplo: a criança fica com raiva da mãe, que brigou com ela e deseja que a mãe se dê mal e, logo depois, a mãe passa mal ou tem um acidente. Ela acredita que porque pensou, aconteceu; por consequência, a culpa daquele mal é dela. O tempo passa, a criança cresce, esquece conscientemente, mas a culpa subterrânea não resolvida fica ali, criando enredos e obstáculos para a concretização dos sonhos dela. Muitas vezes essa culpa só aparece depois de um tempo, quando a pessoa está em terapia… Ou se faz presente num momento ímpar onde um pensamento leva a outro e a cena “pula pra tela mental”. Entender racionalmente o que ocorreu lá atrás e reenquadrar as coisas traz uma boa melhoria. E geralmente a situação se limpa de vez quando cuidamos daquela criança, que ainda existe dentro do adulto, acolhendo e ressignificando todo o acontecimento.
Quando a culpa é real – houve um mal feito ou dito – é importante a pessoa entender o que a levou a isso, qual era o valor positivo que ela tentava atender ou preservar, porque é o que a ajuda a sair da autocrítica ácida e destrutiva para buscar outra forma de atender ao valor em questão, o que, aliás, é imprescindível, pois traz a segurança e a tranquilidade de saber que se o fato se repetir, ela terá outra opção de ação, de escolha ou de comportamento. A seguir, é importante pesar a necessidade interna de desculpar-se junto ao indivíduo afetado pela ação ou palavras dela. Se a necessidade estiver presente, vale ainda pesar se cabe ou não uma conversa, porque há seres que são tão coléricos que isso nem seria possível, pois o simples fato de estarem cara a cara já incitaria uma reação potente de raiva, que colocaria por terra toda a intenção do encontro. Aí, o melhor seria um e-mail, uma mensagem privada por alguma rede social ou recorrer ao bom e velho correio! A grande questão aqui é trabalhar o pedido de desculpas como sendo a libertação em si. Porque a outra pessoa pode ou não perdoar. Se ela perdoar, isso pode ser o final do caminho ou uma porta aberta para quem ”praticou a culpa” fazer a reparação. Mas, se o pedido de perdão não for aceito, esse fato não pode servir de impedimento para a limpeza de quem está pronto para sair de um padrão para outro melhor. Nesse caso, a reparação pode ser feita por outra via, ou seja, para alguém ou algo que precise do mesmo ato que era suposto ser feito para neutralizar a má ação praticada no passado.
Vamos ilustrar de um modo suave: quando adolescente, estraguei a horta do meu vizinho, isso agora me gera uma grande culpa. Posso pedir desculpas ao meu vizinho e me oferecer para replantar uma horta para ele e cuidar dela até atingir o ponto que estava quando eu a destruí. Se meu vizinho não me perdoar ou não quiser mais ter uma horta, posso me oferecer para criar uma horta comunitária, ou ajudar em uma que já exista. Assim eu não detenho a minha ação de reparação.
O último caso é quando já não há como procurar a pessoa para a retratação – ou porque não se sabe o paradeiro dela ou porque ela já não está mais entre nós… E nesse tipo de culpa encontramos o arrependimento por não haver perdoado quem te pediu perdão – por naquele momento não entender que perdoar não é igual a voltar a ser, estar e agir como antes (porque afinal foi isso que gerou o cenário e a situação perfeita para o incidente crítico. Quando na verdade, perdoar é romper o cordão que te prendia àquela dor, àquela pessoa). Ou não havia perdoado antes porque se via apenas como vítima e essa dor ainda tão presente, não permitiu enxergar a verdade total na ocasião; mas mesmo não perdoando, o pedido de perdão ficou ali, sorrateiramente solapando defesas, até que um dia, a questão surge clara: afinal não havia uma vítima e um vilão, mas sim um revezamento de papéis – não por maldade, mas por imaturidade e por feridas emocionais muito inflamadas, que no calor do momento, eram tocadas de modo mais intenso. E ao perceber isso já tarde demais, algumas pessoas entram em uma grande culpa, pelo tempo perdido, por não haver mais como reparar o fato.
Percebo muito esse tipo de culpa em casamentos desfeitos sem uma conversa mais profunda, sem que fosse tentado algo para consertar ou ajustar os dois conjuntos de necessidades, valores e desejos. E também por algumas mulheres que fizeram aborto (até em casos de mulheres mais velhas, que fizeram o aborto, obrigada pelos pais, para manter as aparências tão exigidas na época).
Nesses casos, há como fazer um pedido de perdão “à memória do outro” e a reparação pode ser feita por vias indiretas, como já exemplificado acima.
Quanto mais forte a sensação de culpa, mais indicado é a ajuda de um profissional para acompanhar esse processo de compreensão e limpeza do histórico a fim de que a dor não revolva demais o coração.
Florais, aromaterapia, tratamento homeopático também são de grande ajuda nesse processo de limpeza e recomeço.
Uma coisa posso dizer por ter acompanhado muitos casos assim: se você tem a coragem de trilhar esse caminho de oferecer o perdão e/ou de autoconhecimento, humildade e reparação, a sua vida se tornará muito mais plena, próspera e mais paz sentirá no seu coração e na sua mente!